quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Medo de amar

O céu está parado, não conta nenhum segredo 
 A estrada está parada, não leva a nenhum lugar 
 A areia do tempo escorre de entre meus dedos 
 Ai que medo de amar! 

 O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam 
 Entre elas e eu, que imenso abismo secular... 
 As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio 
 Ai que medo de amar! 

 Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo 
 Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar 
 Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco 
 Ai que medo de amar! 

 Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso 
E parto a cantar canções, sou um patético jogral 
 Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço... 
 Ai que medo de amar! 

 E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço 
 Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar 
 Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço... 
 Ai que medo de amar!



Vinicius de Moraes

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